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Competição Cinema Falado Porto/Post/Doc 2023

por Porto/Post/Doc / 26 10 2023


Dedicada exclusivamente ao cinema falado em português, esta secção competitiva apresenta um conjunto de curtas e longas-metragens recentes e visa promover e divulgar a língua portuguesa em toda a sua diversidade, bem como as cinematografias dos vários países lusófonos.

COMPETIÇÃO CINEMA FALADO 2023

As Melusinas à Margem do Rio
Melanie Pereira, Portugal, 2023, DOC, 81’

Melusina é uma figura mítica do folclore europeu, uma sereia de água doce caraterística dos mitos e lendas do Luxemburgo. Já as “Melusinas” do título são as cinco mulheres, nascidas no Luxemburgo de famílias imigrantes, que protagonizam a longa-metragem de estreia da realizadora Melanie Pereira, também ela nascida e criada no Luxemburgo, filha de emigrantes portugueses. O que é ser-se luxemburguesa, quando esse é um país de imigrantes? O que é ser-se imigrante no próprio país? As Melusinas à Margem do Rio procura responder a estas interrogações com um elogio da natureza quimérica das identidades diaspóricas: uma tentativa de reconciliação dos fragmentos que compõem a sua individualidade.

À Procura da Estrela
Carlos Martínez-Peñalver Mas, Espanha, Portugal, 2023, DOC, 77’

Xoel é um “fonógrafo paisagístico”. O que é isso? É um especialista na recolha dos elementos sonoros que compõem uma paisagem. É, noutras palavras, um etnólogo sonoro. Em À Procura da Estela, o realizador galego Carlos Martínez-Peñalver Mas acompanha Xoel num périplo pela Serra da Estrela, em busca de sons que estão em risco de extinção. No entanto, rapidamente se apercebe que o turismo silenciou o passado, deixando o seu projeto no limbo. Um dia, porém, uma melodia misteriosa leva-o de volta à montanha. Uma viagem deslumbrante por uma das últimas regiões nacionais ainda imunes à presença humana; uma forma de ver a paisagem de olhos fechados.

Naquele Dia Em Lisboa
Daniel Blaufuks, Portugal, 2023, DOC, 23’

A partir de alguns rolos de película abandonados pelo diretor de fotografia, e mais tarde vencedor de um Oscar de Melhor Direção de Fotografia, Eugen Schüfftan, em Lisboa, em 1940, este filme, a que o fotógrafo e realizador Daniel Blaufuks chama uma "fotografia expandida", faz abrandar o ritmo de um dia passado, como se assim fosse possível revivê-lo. À suspensão das imagens, junta-se uma suspensão sonora, através da voz do ator Bruno Ganz, recentemente falecido, que nos coloca na posição dos refugiados da Segunda Guerra Mundial.

Astrakan 79
Catarina Mourão, Portugal, 2023, DOC, 64’

Em 1979, Martim, um jovem português de 15 anos, faz uma viagem, sozinho, até à União Soviética. Hoje, com 57 anos, recorda essa estadia de um ano e meio. Os pais, militantes do Partido Comunista, achavam que ia para um sítio seguro, uma sociedade que cumpria com todos os seus ideais. Mas, entre a euforia da adolescência e a desilusão da utopia soviética, ficaram as memórias que, até este filme, Martim nunca tinha partilhado. Fá-lo agora para o filho, que tem aproximadamente a idade que ele tinha. O novo filme de Catarina Mourão é um tríptico confessional sobre os segredos que se guardam em família.

Onde Está o Pessoa?
Leonor Areal, Portugal, 2023, DOC, 63’

A realizadora e investigadora Leonor Areal propõe-nos um jogo: Onde Está o Pessoa? A partir de um curto filme que regista a saída de dezenas de pessoas de um teatro em Lisboa, numa tarde de domingo em 1913, a realizadora propõem-se a esmiuçar, fotograma a fotograma, milímetro a milímetro, a multidão em busca do poeta Fernando Pessoa – do qual, até agora, não se conhecia qualquer imagem em movimento. Será que Pessoa andou mesmo por ali? O filme investiga essa possibilidade. O espectador encontrará a sua resposta.

Verdade ou Consequência?
Sofia Marques, Portugal, DOC, 2023, 106’

A atriz e realizadora Sofia Marques, depois de Ilusão (2014), onde acompanhava uma das últimas peças de teatro encenadas por Luís Miguel Cintra no Teatro da Cornucópia, regressa à companhia do seu amigo. Em Verdade ou Consequência? a realizadora busca uma figura que conhece, enquanto que Luís Miguel Cintra procura um outro, diferente de si. Cada uma destas pesquisas faz-se por entre os vestígios do passado que enchem a casa do ator, através dos filmes de Manoel de Oliveira e pelos poemas de Ruy Belo, sempre com a cidade do Porto em fundo.

Lindo
Margarida Gramaxo, Portugal, 2023, DOC, 90’

Durante mais de 20 anos Lindo caçou tartarugas marinhas na Ilha do Príncipe. Depois de um encontro com uma tartaruga inesperadamente dócil, decidiu mudar de vida para começar a proteger o animal contra outros predadores. Agora mergulha no seu passado para procurar as pistas que lançam o debate sobre o futuro da ilha e que passam por uma reflexão sobre o difícil equilíbrio entre o Homem e a Natureza.

Visão do Paraíso
Leonardo Pirondi, Brasil, 2022, DOC, 16’

As navegações em direção ao "Novo Mundo" alargaram os limites do conhecimento ocidental. Os mapas da época misturam descrições da realidade geográfica com mitificações imaginárias. Visão do Paraíso acompanha a viagem da Marinha Brasileira em busca de uma ilha lendária, alegadamente encontrada em 1483, a oeste da Irlanda. No limiar ténue entre o real, o simulado e o imaginado, o filme reflete sobre as possibilidades da realidade virtual enquanto ferramenta de dar "novos mundos ao mundo".

Big Bang Henda
Fernanda Polacow, Portugal, 2023, DOC, 21'

Kiluanji Kia Henda é um artista angolano cujo trabalho se desenvolve nas áreas da fotografia, do vídeo e da performance. Grande parte da obra de Kia Henda trabalha as questões do passado colonial português a partir de uma perspetiva de futuro, derrubando estátuas e símbolos, construindo novas memórias, revertendo dinâmicas de poder. Big Bang Henda é um documentário-poesia-manifesto sobre o trabalho do artista, onde é possível mergulhar nas suas criações e reflexões anticoloniais.

2720
Basil Da Cunha, Portugal, 2023, FIC, 24'

2720 é o código postal do Bairro da Reboleira, local nos arredores de Lisboa onde o realizador Basil da Cunha mora parte do ano. Há mais de uma década que o realizador filma e trabalha com a comunidade de moradores da Reboleira. Por entre a malha labiríntica do bairro correm duas gerações, ele está atrasado para o primeiro dia no novo emprego, ela anda à procura do irmão desaparecido. Lá fora ronda a polícia. 2720 é uma ode à força do coletivo.

Cinzas e Nuvens
Margaux Dauby, Bélgica, Portugal, 2023, DOC, 12’

Para fazer face à terrível sina dos fogos florestais, centenas de homens e mulheres passam os dias de Verão em torres de vigia, um pouco por todo o país. Em Cinzas e Nuvens, a realizadora Margaux Dauby acompanha o dia a dia de um conjunto de mulheres, com destaque para Dina, Adriana e Helena. Mais do que identificar um foco de incêndio, este é um filme sobre a dedicação a uma causa, sobre a solidão e sobre a contemplação da paisagem.

Lucefece: Where there is no vision, the people will perish
Ricardo Leite, Portugal, 2023, DOC, 86’

Depois de, no ano passado, Ricardo Leite ter apresentado no festival o belíssimo As Maçãs Azuis (sobre o percurso e os filmes de Edila Gaitonde, ativista anticolonial pela causa da libertação da “Índia Portuguesa”), regressa este ano com nova longa-metragem, Lucefece. Integralmente filmado em película, ao longo dos últimos 20 anos, película essa que o próprio realizador revelou à mão, este é um filme-ensaio onde se funde o pessoal e o coletivo, o político e o íntimo. Ricardo Leite parte das suas memórias de infância e cruza-as com conversas com seu pai, ex-combatente da guerra colonial, que seria depois preso. Um mergulho autobiográfico no passado e o retrato de um país assombrado pelos fantasmas da guerra.

Samuel e a luz
Vinícius Girnys, Brasil, França, 2023, DOC, 71’

Na praia de Ponta Negra, no município de Paraty, no Brasil, sempre se viveu à luz das velas, sem eletricidade. Com a chegada do programa “Luz para Todos”, iniciado pelo Governo Federal em 2003, o quotidiano da pequena comunidade de Ponta Negra é profundamente alterado. O realizador Vinícius Girnys filmou as pessoas desta povoação ao longo de seis anos (entre 2016 e 2022), e encontrou o seu protagonista, Samuel. A partir do caso particular desta criança e da sua família, acompanhamos a transformação dos modos de vida de uma pequena comunidade, com a chegada da luz elétrica. E, com ela, a chegada do turismo.


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