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Cinemateca Ideal dos Subúrbio do Mundo com curadoria de Lina Soualem

por Porto/Post/Doc / 02 09 2025


O programa Cinemateca Ideal dos Subúrbios do Mundo oferece um olhar inédito sobre as “banlieues” – os subúrbios esquecidos e, muitas vezes, mal representados do mundo. Com o objetivo de preencher uma lacuna política e artística, esta iniciativa destaca filmes que revelam a singularidade e a diversidade das abordagens cinematográficas frequentemente agrupadas sob o termo “subúrbio”. Através de obras desafiadoras, poéticas e politizadas, o programa evidencia a riqueza estética e narrativa deste sector do cinema, muitas vezes invisível para a crítica e as instituições. Este projeto foi idealizado pela cineasta Alice Diop e é apoiado pelos Ateliers Médicis e pelo Centro Pompidou.

Depois da estreia deste programa na edição de 2024 do festival, o Porto/Post/Doc convida, em 2025, a realizadora Lina Soualem a fazer a curadoria de filmes a exibir.

“Estes dois filmes marcaram-me profundamente enquanto cineasta: inspiraram-me a fazer cinema. Vi “A World Not Ours”, de Mahdi Fleifel, em 2013, num festival em Buenos Aires, na Argentina, aos 23 anos, enquanto vivia e trabalhava lá como programadora. Naquela altura, não pensava que faria, ou sequer pudesse fazer, cinema. Mas no dia em que vi este filme, algo mexeu verdadeiramente comigo: percebi, pela primeira vez, como palestiniana, como árabe, que era possível contar as nossas histórias de perda, deslocamento, separação, colonização – na nossa língua, através dos nossos olhos, usando humor e reinventando livremente a linguagem cinematográfica. Ao contar a história da sua família num campo de refugiados palestinianos no Líbano, Mahdi Fleifel reivindicou a sua história como palestiniano e transmitiu-a ao mundo. Contar a tua própria história significa assumir o controlo da narrativa, para não seres reduzido ao que os outros dizem sobre ti.

É também o que faz Rachid Djaïdani, sudanês-argelino, em “Rengaine” (“Hold Back”), um conto espirituoso e bem-humorado sobre a intolerância. É uma releitura destemida e muito inventiva do Romeu e Julieta, passada em Paris, protagonizada por uma jovem muçulmana magrebina que quer casar-se com um homem negro cristão. Rachid Djaïdani escreveu e filmou-o sozinho, em modo “guerrilha”, ao longo de nove anos. Este filme é um testemunho de fé: fé numa singularidade, fé numa visão estética, fé na capacidade de concluir algo que parece impossível.
Um filme ousado e poético que nos permite, enquanto filhos de imigrantes e de seres ex-colonizados, sonhar alto e viver rodeados de poesia. “

Lina Soualem

CINEMATECA IDEAL DOS SUBÚRBIOS DO MUNDO

A World Not Ours, Mahdi Fleifel
DOC, 2012, DNK, LBN, GBR, 93’
Trailer

Hold Back, Rachid Djaidani
FIC, 2012, FRA, 75’
Trailer

 

Operação apoiada pelo Ministère de l'Europe et des Affaires étrangères e pelo Institut Français no âmbito da estratégia de promoção internacional das indústrias culturais e criativas através do dispositivo PICC.


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