Em 2022, após dois anos marcados pela pandemia, o Porto/Post/Doc regressou com o objetivo claro de reencontrar o seu público nas salas. Desde a sua criação em 2014, o festival procurou agitar o centro do Porto com uma programação cinematográfica intensa, inicialmente em parceria com o Cinema Trindade e, em 2022, assinalando também a reabertura do Batalha Centro de Cinema. A crescente diversidade da oferta cultural na cidade reforçou a nossa responsabilidade enquanto programadores e contribuiu para a consolidação de novos hábitos de consumo cinematográfico.
A experiência do confinamento alterou profundamente as formas de ver cinema, tornando ainda mais urgente a formação de públicos. Reforçámos o nosso compromisso com os mais jovens, conscientes de que o cinema deve continuar a ser uma linguagem acessível, popular e formativa.
A nona edição decorreu entre 17 e 26 de novembro, com sessões no Coliseu do Porto, Cinema Trindade, Cinema Passos Manuel e Maus Hábitos, sede do festival. A abertura fez-se no Coliseu, com a estreia nacional de Hallelujah: Leonard Cohen, A Journey, A Song, evocando a memória musical de várias gerações.
A programação incluiu filmes desafiadores, selecionados com base num trabalho coletivo e refletido da equipa. As competições – Internacional, Cinema Falado, Cinema Novo e Transmission – continuaram a valorizar olhares autorais e comprometidos com a realidade social e política. Acreditámos que o cinema permanece um instrumento de resistência e de revelação.
O programa Nós, a Revolução destacou o cinema húngaro, com obras de Márta Mészáros e Miklós Jancsó, que refletem sobre a história, os mitos e a memória coletiva. A retrospetiva dedicada a Sierra Pettengill centrou-se na política das imagens de arquivo e na forma como moldam a perceção do passado e do presente.
O projeto educativo desenvolveu-se em duas frentes: oficinas nas escolas do Porto e Grande Porto ao longo do ano e sessões programadas para dezenas de turmas durante o festival. O envolvimento de alunos estendeu-se ao júri Teenage, à oficina Microcosmos para famílias e à competição Cinema Novo, espaço de afirmação de jovens cineastas em língua portuguesa.
O foco na saúde mental esteve presente na secção Neurodiversidade, com cinco filmes que deram visibilidade a histórias de pessoas neurodiversas e às complexidades das doenças mentais.
Programas como Europa 61, Cinefiesta e Novos Talentos – este último dedicado à Suíça – sublinharam a diversidade de linguagens e temáticas. A secção Industry promoveu encontros entre profissionais de França, Espanha e Portugal, incentivando coproduções e novos projetos.
O festival integrou ainda o segundo ano do programa Working Class Heroes, um convite a cineastas para filmar o Porto a partir das histórias esquecidas da classe operária, protagonistas de transformações sociais e culturais.
Celebrámos, em conjunto, o cinema como arte e lugar de encontro. Uma edição memorável, vivida intensamente nas salas da cidade.