PortoPostDoc

Porto/Post/Doc

20 - 29 nov 2020

Foi sucessivamente anunciado o fim: da história, das ideologias, do tempo e até do mundo. Com esse colapso simbólico, vieram também as mortes sucessivas das cidades — abandonadas, edificadas, arrasadas, prometidas ou sonhadas — que, ainda assim, renasceram. Tornaram-se mundos imaginados, histórias recontadas, revoltas por cumprir.

Hoje, a visualidade das cidades — as suas formas cinemáticas, paisagens e atmosferas — é constantemente desafiada. Corredores verdes que ligam centros e periferias, elevadores panorâmicos, teleféricos turísticos, ciclovias e tímidos ensaios de cidades eco-friendly ou smart: eis a cidade do depois. Depois da emergência climática, da crise migratória, da urgência turística ou da indigência de uma classe sub-proletária que circula sem bairro, sem pertença. Neste tempo intensamente presente — que é sempre também o tempo do depois — as cidades deixaram de ser abrigo, expondo à vulnerabilidade os seus habitantes mais frágeis. Sem sonho, sem utopia, sem urbanidade: que imagem da cidade nos oferece hoje o cinema?

A cinecittà permanece como possibilidade de um mundo inteiro. E os cidadãos, por mais confinados, continuam a ser pontos de luz: animam a vida nas utopias sonoras de David Byrne, nas sublevações antirracistas evocadas por Martin Luther King, ou nas derivas suburbanas de Lisboa e Los Angeles, pelas figuras de Ventura e Stan.

De 20 a 29 de novembro, o Porto/Post/Doc ocupou novamente vários espaços da cidade — Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Cinema Passos Manuel, Planetário do Porto – Centro de Ciência Viva e Escola das Artes – UCP. Pela primeira vez, parte da programação decorreu também em plataformas online, num gesto de adaptação aos novos tempos.